Flores
O jardim dentro do jardim
Quando evoco o seu nome, as imagens correm céleres, em vertiginosa torrente.
Escolho o improvável: obras da arte de sobrevivência.
A procura do belo levou-o ao jardim onde juntou aos relvados as coisas bonitas, e às árvores e flores acrescentou lenços de seda, laços, lantejoulas e abraçou-as. Nesta ampla casa podia dormir sob as estrelas, ler os livros que salvara da catástrofe pousado em verde macio e esmeraldino, ou falar com os menos atarefados que atravessavam o seu mundo. Há lugar para a diferença nas nossas cidades? Estaremos os “bons” cidadãos, integrados nos “procedimentos recomendados” mentalmente disponíveis para aceitar a diversidade do Outro? Esta é a interrogação maior que os trabalhos de Rosa Nunes me suscitam quando em desusada ousadia confronta obras coloridas de uma cultura periférica de resistência e criações da Serra-mãe na sua mais pujante “imaginação”, falo obviamente de flores, especialmente das da família Orchidaceae, minúsculas e praticamente imperceptíveis, agora ampliadas para nos ensinarem a ver a essência das coisas vivas, em concentrada beleza monocromática. A sensual ervilha-de-cheiro ou a insectiforme Ophrys speculum, que roubou às abelhas o seu traje de gala pela boa causa da polinização, são joias preciosas da Natureza que a Arrábida conserva, no seu jardim ilimitado onde a liberdade continua a ser possível...
A obra da artista Rosa Nunes surpreende-nos e inquieta-nos algures no cruzamento onde emoção e razão se fundem.
Joaquina Soares
Quando evoco o seu nome, as imagens correm céleres, em vertiginosa torrente.
Escolho o improvável: obras da arte de sobrevivência.
A procura do belo levou-o ao jardim onde juntou aos relvados as coisas bonitas, e às árvores e flores acrescentou lenços de seda, laços, lantejoulas e abraçou-as. Nesta ampla casa podia dormir sob as estrelas, ler os livros que salvara da catástrofe pousado em verde macio e esmeraldino, ou falar com os menos atarefados que atravessavam o seu mundo. Há lugar para a diferença nas nossas cidades? Estaremos os “bons” cidadãos, integrados nos “procedimentos recomendados” mentalmente disponíveis para aceitar a diversidade do Outro? Esta é a interrogação maior que os trabalhos de Rosa Nunes me suscitam quando em desusada ousadia confronta obras coloridas de uma cultura periférica de resistência e criações da Serra-mãe na sua mais pujante “imaginação”, falo obviamente de flores, especialmente das da família Orchidaceae, minúsculas e praticamente imperceptíveis, agora ampliadas para nos ensinarem a ver a essência das coisas vivas, em concentrada beleza monocromática. A sensual ervilha-de-cheiro ou a insectiforme Ophrys speculum, que roubou às abelhas o seu traje de gala pela boa causa da polinização, são joias preciosas da Natureza que a Arrábida conserva, no seu jardim ilimitado onde a liberdade continua a ser possível...
A obra da artista Rosa Nunes surpreende-nos e inquieta-nos algures no cruzamento onde emoção e razão se fundem.
Joaquina Soares