Beyond the Grave
Beyond the Grave – Fotografia, instalação e vídeo
O presente projecto expõe através de diversas expressões artísticas, a angústia dos humanos, a degradação dos espaços e da memória, afectados pela Guerra. A passagem de meio século sobre o início da guerra colonial portuguesa particularizou este projecto, adaptando o seu conceito geral a uma situação de caso, ainda hoje com forte repercussão na cultura e no imaginário colectivo dos portugueses. O projecto constrói-se em vários momentos:
I.-Fim da juventude – peça constituída por instalação fotográfica, com 15 elementos. Repete-se incessantemente um jovem mancebo, frágil e desprotegido, face a uma impiedosa máquina de guerra que o começa a formatar, transformando-o em número, aniquilando dessa forma o tempo de uma juventude irremediavelmente perdida.
II.-Namoro em tempo de guerra – Este tema constitui a segunda parte do projecto e nele se congrega a demonstração da dificuldade do amor para os jovens portugueses dos anos 60/70 do século XX. Tenta-se mostrar a hipocrisia, e a ilusão criada pelo regime salazarista através de diversas mistificações.
III. Destroços do Império – O aquartelamento que constituiu o campo de trabalho adquire o estatuto simbólico de representação da ideia de Império português. A sua fragmentação e ruína após a desafectação militar, expõe metaforicamente o colapso daquele.
IV. Vídeo – Um homem adulto movimenta-se incessantemente e descontroladamente, sem contudo conseguir mudar de lugar: um pesadelo? Que desafios lhe foram colocados? É este estado de espírito e também a força vital do ser humano que uma vez consciencializado lhe permitem repudiar a repressão e alcançar a liberdade.
I.-Fim da juventude – peça constituída por instalação fotográfica, com 15 elementos. Repete-se incessantemente um jovem mancebo, frágil e desprotegido, face a uma impiedosa máquina de guerra que o começa a formatar, transformando-o em número, aniquilando dessa forma o tempo de uma juventude irremediavelmente perdida.
II.-Namoro em tempo de guerra – Este tema constitui a segunda parte do projecto e nele se congrega a demonstração da dificuldade do amor para os jovens portugueses dos anos 60/70 do século XX. Tenta-se mostrar a hipocrisia, e a ilusão criada pelo regime salazarista através de diversas mistificações.
III. Destroços do Império – O aquartelamento que constituiu o campo de trabalho adquire o estatuto simbólico de representação da ideia de Império português. A sua fragmentação e ruína após a desafectação militar, expõe metaforicamente o colapso daquele.
IV. Vídeo – Um homem adulto movimenta-se incessantemente e descontroladamente, sem contudo conseguir mudar de lugar: um pesadelo? Que desafios lhe foram colocados? É este estado de espírito e também a força vital do ser humano que uma vez consciencializado lhe permitem repudiar a repressão e alcançar a liberdade.
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A memória que revela...
A exposição de ROSA NUNES intitulada “BEYOND THE GRAVE”, chega agora às instalações da Sociedade Nacional de Belas-Artes, depois de ter sido mostrada no MAEDS- Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal em Março de 2011.
Trata-se de uma mostra composta por três núcleos: fotografia, instalação, e video, num contexto de comunicação contemporânea.
Rosa Nunes é fotógrafa e trabalha em arqueologia e nesta mostra relaciona o seu trabalho artístico com o seu trabalho diário, definindo uma estética no tempo e no espaço, para chamar a nossa atenção para acontecimentos relacionados com a guerra em África, antes da independência das colónias portuguesas. Nesta produção artística, Rosa Nunes em vez do prazer lúdico que é vulgar na construção da obra de arte, remete-nos para a comunicação do sofrimento e do silêncio, para o vazio que resta depois dos acontecimentos do horror.
Citando o poeta Liberto Cruz que no seu extraordinário livro “Jornal de Campanha” que nos diz- “o silêncio é uma arma adormecida”- também Rosa Nunes nos encaminha para essa arma que revela reflexão profunda para os que ficaram, feita de repetições e existências para além da sepultura (Beyond the Grave)
São memórias gravadas, resíduos de mágoas profundas, que povoam o espírito de todos nós e tendem a cair no esquecimento. A demolição do quartel de Infantaria 11 de Setúbal, serve de palco a estas comunicações que encerram símbolos do inconsciente da artista, cargas emotivas e metafóricas produzidas pela memória, que assim nos dão a ver acontecimentos, que, apesar de não terem sido vividos directamente, foram assimilados e vividos no campo da sua sensibilidade poética, fluxo do pensamento subjectivo que nos é transmitido pela captação das imagens.
A repetição das fotos do jovem que tinha de se submeter nu à inspecção ou às“ sortes “, como se designava então para a entrada dos jovens no serviço militar obrigatório, envolve-nos nesse vazio feito de silêncio e repetição, tantos foram os milhares de mancebos que por ali passaram e não voltaram.
As fotos das argamassas nas portas e umbrais apodrecidos pelo abandono do edifício, essa passagem do tempo nas janelas decadentes, o lixo acumulado deixado nos espaços vazios, a luz que ainda penetra, traduz as vidas ceifadas, os campos de morte, a inutilidade e desperdício, a desolação que são e serão sempre os teatros de guerra.
A instalação, compõe-se de um conjunto de pedras retiradas da demolição das paredes do quartel, onde Rosa Nunes estampou fotografias da época, referentes ao período que durou a guerra. Existe aqui uma forte simbologia, em que precisamos de procurar a sugestão, mais do que a evidência dos factos ocorridos, ou a sua descrição, num conceito intelectual e universalista. Apesar da guerra sempre alguns têm uma vida normal e posam para as fotografias, gravando recordações de momentos felizes. A artista acredita que a memória gravada nas pedras nos revela os seus segredos.
O video refere-se a um pesadelo: um homem luta intensamente com um sonho terrível e procura desesperadamente sair dele e vencê-lo.
É pois com grande satisfação que a S.N.B.A acolhe esta exposição em colaboração com as actividades culturais do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal contribuindo deste modo para a sua visibilidade em Lisboa.
Maria Gabriel
26 de Abril 2012
Trata-se de uma mostra composta por três núcleos: fotografia, instalação, e video, num contexto de comunicação contemporânea.
Rosa Nunes é fotógrafa e trabalha em arqueologia e nesta mostra relaciona o seu trabalho artístico com o seu trabalho diário, definindo uma estética no tempo e no espaço, para chamar a nossa atenção para acontecimentos relacionados com a guerra em África, antes da independência das colónias portuguesas. Nesta produção artística, Rosa Nunes em vez do prazer lúdico que é vulgar na construção da obra de arte, remete-nos para a comunicação do sofrimento e do silêncio, para o vazio que resta depois dos acontecimentos do horror.
Citando o poeta Liberto Cruz que no seu extraordinário livro “Jornal de Campanha” que nos diz- “o silêncio é uma arma adormecida”- também Rosa Nunes nos encaminha para essa arma que revela reflexão profunda para os que ficaram, feita de repetições e existências para além da sepultura (Beyond the Grave)
São memórias gravadas, resíduos de mágoas profundas, que povoam o espírito de todos nós e tendem a cair no esquecimento. A demolição do quartel de Infantaria 11 de Setúbal, serve de palco a estas comunicações que encerram símbolos do inconsciente da artista, cargas emotivas e metafóricas produzidas pela memória, que assim nos dão a ver acontecimentos, que, apesar de não terem sido vividos directamente, foram assimilados e vividos no campo da sua sensibilidade poética, fluxo do pensamento subjectivo que nos é transmitido pela captação das imagens.
A repetição das fotos do jovem que tinha de se submeter nu à inspecção ou às“ sortes “, como se designava então para a entrada dos jovens no serviço militar obrigatório, envolve-nos nesse vazio feito de silêncio e repetição, tantos foram os milhares de mancebos que por ali passaram e não voltaram.
As fotos das argamassas nas portas e umbrais apodrecidos pelo abandono do edifício, essa passagem do tempo nas janelas decadentes, o lixo acumulado deixado nos espaços vazios, a luz que ainda penetra, traduz as vidas ceifadas, os campos de morte, a inutilidade e desperdício, a desolação que são e serão sempre os teatros de guerra.
A instalação, compõe-se de um conjunto de pedras retiradas da demolição das paredes do quartel, onde Rosa Nunes estampou fotografias da época, referentes ao período que durou a guerra. Existe aqui uma forte simbologia, em que precisamos de procurar a sugestão, mais do que a evidência dos factos ocorridos, ou a sua descrição, num conceito intelectual e universalista. Apesar da guerra sempre alguns têm uma vida normal e posam para as fotografias, gravando recordações de momentos felizes. A artista acredita que a memória gravada nas pedras nos revela os seus segredos.
O video refere-se a um pesadelo: um homem luta intensamente com um sonho terrível e procura desesperadamente sair dele e vencê-lo.
É pois com grande satisfação que a S.N.B.A acolhe esta exposição em colaboração com as actividades culturais do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal contribuindo deste modo para a sua visibilidade em Lisboa.
Maria Gabriel
26 de Abril 2012