Arquitecturas
Equações de Navier-Stokes
Estas fotografias formam impressionantes visoes espaciais de um fenómeno físico “congelado” em diferentes instantes de tempo. Tal fenómeno diz respeito à Mecânica dos Fluidos e o seu estudo está ligado às célebres equações de Navier-Stokes que remontam ao século XIX. Estas constituem um conjunto de equações diferenciais às derivadas parciais de grande dificuldade. A sua nao linearidade exprime fenómenos de turbulencia e caos. Apesar destas equaçoes terem sido usadas com sucesso por físicos e engenheiros, a compreensão matemática das suas soluçoes permanece, hoje em dia, mínima. O denominado Clay Mathematics Institut oferece um milhao de dólares pelo esclarecimento teria como consequencia relevante um enorme progresso na Mecanica dos Fluídos, em particular uma substancial melhoria na previsao do tempo.
Carlos Sarrico
(Matemático)
Carlos Sarrico
(Matemático)
... e se amanhã chovesse?
Subir à montanha azul para ver mais longe, quase impossível na frenética agitação do tempo, pode ser substituído pela multiplicação de cruzamentos na teia horizontal de sonhos, digo projetos, que animam os homens da cidade. Estou convicta de que aí encontraremos energia criadora para remodelar a nossa existência, para atear novos fogos de descoberta e de paixão.
O MAEDS prossegue, pois, na senda de um trabalho cultural de parceria, que, no último trimestre de 2011, se conecta com a excelência da Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea (Câmara Municipal de Almada); ao mesmo tempo, reforça a colaboração com o grupo de intervenção cultural Synapsis.
Sobre a colectiva de fotografia “Arquiteturas”, um dos aspectos que mais me apraz registar é o evidente prazer pela produção cultural que reuniu sete autores (António Manuel dos Santos, António Marrachinho Soares, Carlos Medeiros, Eduardo Carqueijeiro, José Alex Gandum, Mafalda Pires da Silva e Rosa Nunes), os quais, perseguindo objectivos diferenciados e usando linguagens muito distintas se reuniram pelo imperativo de partilharem experiências de captação e interpretação de fragmentos dos seus quotidianos.
Correndo o risco de ser redutora, atrevo-me a dar conta, em poucas palavras, da diversidade das “arquiteturas” representadas nesta exposição. Os trabalhos de Carlos Medeiros (fotografia analógica e impressão a preto e branco) reflectem a avassaladora presença do elemento humano, sobretudo quando este se ausenta; os fragmentos de paisagens urbanas cuidadosamente escolhidos e iluminados são cenários de composição irrepreensível, expectantes, onde a qualquer momento pode ressoar a palavra: Acção!
O património arquitectónico urbano esteve sob a mirada de Mafalda Pires da Silva e António Marrachinho Soares; no primeiro caso, em delicioso passeio pelos jardins históricos da cidade onde se projeta a saudade da Natureza e se recortam, dos emaranhados românticos ou no classicismo de setecentos, elementos tipologicamente significativos. António Marrachinho Soares preferiu a noite, recuperando, pelos fortes contrastes de luz, o dramatismo dos dias de glória de edifícios tão emblemáticos como a Basílica da Estrela. Para mais informação, cf. os textos deste último autor.
António Manuel dos Santos e Eduardo Carqueijeiro partilham com o observador momentos fotográficos particularmente felizes. Do primeiro autor, refira-se a imagem que evoca o desprendimento da juventude na transparente atmosfera de uma tarde de Verão. De Eduardo Carqueijeiro, não posso deixar de destacar “Dentro de um Veronese”, ou a secreta vida dos museus quando as pessoas entram no seu âmago e se tornam agentes transformadores dessa mesma realidade.
José Alex Gandum traz à presente mostra a fotografia de reportagem: pictures, pictures, pictures... Era impossível imprimir, fixar, parar... Projetar foi uma boa opção para o dinamismo inerente ao seu trabalho. Procura rostos e gestos de gente de quem gosta, de gente que escreve, ou faz teatro, ou assumidamente se manifesta na rua pelo pão, pela justiça, pelo exercício da liberdade. É uma fotografia rápida e voraz, como o tempo comprimido dos nossos dias.
Rosa Nunes enveredou pelos caminhos da arte conceptual; fez uma longa viagem na qual foi apagando figuras, cenários, elementos adventícios, pistas, em direção à abstração plena, onde a linguagem matemática se mostrou a melhor chave de descodificação (remeto gostosamente o leitor para o texto do matemático Carlos Sarrico). Acentuando o recurso ao registo dinâmico, cinematográfico, a autora escolheu de entre um conjunto de milhares de imagens, todas diferentes, 12 instantes do turbilhão das gotículas de um jacto de água, sempre o mesmo e sempre diferente. Cada instante é único e irrepetível e a imprevisibilidade é a regra. No vídeo reina igualmente a incerteza, perturbadora do pensamento positivista. Assisti ao momento de partida para este projeto. Era uma tarde quente e quieta de um domingo do fim de Julho e descansávamos nos bancos do largo do Teatro de S. Carlos. Nada de interessante a registar. Rosa Nunes fotografava a única coisa que mexia no largo: o pequeno repuxo de água perdido no meio da rígida moldura de pedra do fontanário. Se tivesse que dar um título a esta série de trabalhos, designá-la-ia não obviamente por caos, mas pela pergunta-desejo que me ocorria nessa tarde: e se amanhã chovesse?
Joaquina Soares
(Directora do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal)
O MAEDS prossegue, pois, na senda de um trabalho cultural de parceria, que, no último trimestre de 2011, se conecta com a excelência da Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea (Câmara Municipal de Almada); ao mesmo tempo, reforça a colaboração com o grupo de intervenção cultural Synapsis.
Sobre a colectiva de fotografia “Arquiteturas”, um dos aspectos que mais me apraz registar é o evidente prazer pela produção cultural que reuniu sete autores (António Manuel dos Santos, António Marrachinho Soares, Carlos Medeiros, Eduardo Carqueijeiro, José Alex Gandum, Mafalda Pires da Silva e Rosa Nunes), os quais, perseguindo objectivos diferenciados e usando linguagens muito distintas se reuniram pelo imperativo de partilharem experiências de captação e interpretação de fragmentos dos seus quotidianos.
Correndo o risco de ser redutora, atrevo-me a dar conta, em poucas palavras, da diversidade das “arquiteturas” representadas nesta exposição. Os trabalhos de Carlos Medeiros (fotografia analógica e impressão a preto e branco) reflectem a avassaladora presença do elemento humano, sobretudo quando este se ausenta; os fragmentos de paisagens urbanas cuidadosamente escolhidos e iluminados são cenários de composição irrepreensível, expectantes, onde a qualquer momento pode ressoar a palavra: Acção!
O património arquitectónico urbano esteve sob a mirada de Mafalda Pires da Silva e António Marrachinho Soares; no primeiro caso, em delicioso passeio pelos jardins históricos da cidade onde se projeta a saudade da Natureza e se recortam, dos emaranhados românticos ou no classicismo de setecentos, elementos tipologicamente significativos. António Marrachinho Soares preferiu a noite, recuperando, pelos fortes contrastes de luz, o dramatismo dos dias de glória de edifícios tão emblemáticos como a Basílica da Estrela. Para mais informação, cf. os textos deste último autor.
António Manuel dos Santos e Eduardo Carqueijeiro partilham com o observador momentos fotográficos particularmente felizes. Do primeiro autor, refira-se a imagem que evoca o desprendimento da juventude na transparente atmosfera de uma tarde de Verão. De Eduardo Carqueijeiro, não posso deixar de destacar “Dentro de um Veronese”, ou a secreta vida dos museus quando as pessoas entram no seu âmago e se tornam agentes transformadores dessa mesma realidade.
José Alex Gandum traz à presente mostra a fotografia de reportagem: pictures, pictures, pictures... Era impossível imprimir, fixar, parar... Projetar foi uma boa opção para o dinamismo inerente ao seu trabalho. Procura rostos e gestos de gente de quem gosta, de gente que escreve, ou faz teatro, ou assumidamente se manifesta na rua pelo pão, pela justiça, pelo exercício da liberdade. É uma fotografia rápida e voraz, como o tempo comprimido dos nossos dias.
Rosa Nunes enveredou pelos caminhos da arte conceptual; fez uma longa viagem na qual foi apagando figuras, cenários, elementos adventícios, pistas, em direção à abstração plena, onde a linguagem matemática se mostrou a melhor chave de descodificação (remeto gostosamente o leitor para o texto do matemático Carlos Sarrico). Acentuando o recurso ao registo dinâmico, cinematográfico, a autora escolheu de entre um conjunto de milhares de imagens, todas diferentes, 12 instantes do turbilhão das gotículas de um jacto de água, sempre o mesmo e sempre diferente. Cada instante é único e irrepetível e a imprevisibilidade é a regra. No vídeo reina igualmente a incerteza, perturbadora do pensamento positivista. Assisti ao momento de partida para este projeto. Era uma tarde quente e quieta de um domingo do fim de Julho e descansávamos nos bancos do largo do Teatro de S. Carlos. Nada de interessante a registar. Rosa Nunes fotografava a única coisa que mexia no largo: o pequeno repuxo de água perdido no meio da rígida moldura de pedra do fontanário. Se tivesse que dar um título a esta série de trabalhos, designá-la-ia não obviamente por caos, mas pela pergunta-desejo que me ocorria nessa tarde: e se amanhã chovesse?
Joaquina Soares
(Directora do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal)