Terra Verde
POR UMA TERRA VERDE
O pinheiro bravo dos areais do nosso litoral encontra-se hoje em acentuado declínio. Segundo o inventário florestal nacional de 2010, esta espécie, outrora dominante na floresta portuguesa, foi clara- mente ultrapassada pelo eucalipto.
Entre 1995 e 2010 a superfície ocupada pelo pinheiro bravo decaiu em cerca de 13%. A nova espécie vencedora na nossa floresta, o eucalipto, com os seus 750 mil hectares possui a forte procura do sector industrial da celulose e da pasta de papel, concorrendo vantajosamente com o pinheiro bravo e contribuindo negativamente para a biodiversidade.
Os pinhais de Pinus pinaster, espécie autóctone da nossa floresta holocénica, atingiram o seu máximo desenvolvimento durante o óptimo climático pós-glaciar, entre 8000 e 5000 anos BP, presente- mente têm sido devastados por incêndios, por pragas como a do nemátodo, e sobretudo pela má gestão florestal, que tem permitido a fragilização desta espécie. A sua madeira, exaustivamente resina- da, em extensas zonas lesionadas, tem perdido os mecanismos de defesa face aos agentes xilófagos.
Os pinhais da Maria da Moita, entre Santo André e Sines eram vigorosos e quase eternos nos anos 70, quando tive o privilégio de neles passear ao
som da musicalidade que os seus dedos impunham à brisa marítima dos fins de tarde de Agosto ou ao som dos épicos concertos dos dias de tempestade. Tudo era selvagem e limpo, e ainda se construíam barcos de madeira no estaleiro de Sines. Actualmente, uma paisagem de troncos rígidos e moribundos desenha franjas incertas de lixos domésti- cos e industriais, na periferia das aglomerações urbanas.
E quem pensa que as árvores não choram? Essas desmedidas feridas abertas nos troncos dos pinheiros, verdadeiramente para nada, porque as suas lágrimas caem sem glória nas areias sujas da indiferença, são tão impressivas que é impossível não sentirmos o sofrimento deles e o nosso, porque estamos destruindo e aviltando a vida silvestre.
Rosa Nunes oferece-nos um espelho e pede-nos que o olhemos, de muito perto, a rasar a pele, e se a sua metáfora não quebrar a distância que nos separa do amor à vida, em qualquer uma das suas formas, não será apenas a duna verde de outrora que nos abandonará, pois acabaremos por esque- cer o brilho do verde orvalhado e esmeraldino da nossa Terra.
Joaquina Soares
(Directora do MAEDS e Profª de Arqueologia na FSCH)
O pinheiro bravo dos areais do nosso litoral encontra-se hoje em acentuado declínio. Segundo o inventário florestal nacional de 2010, esta espécie, outrora dominante na floresta portuguesa, foi clara- mente ultrapassada pelo eucalipto.
Entre 1995 e 2010 a superfície ocupada pelo pinheiro bravo decaiu em cerca de 13%. A nova espécie vencedora na nossa floresta, o eucalipto, com os seus 750 mil hectares possui a forte procura do sector industrial da celulose e da pasta de papel, concorrendo vantajosamente com o pinheiro bravo e contribuindo negativamente para a biodiversidade.
Os pinhais de Pinus pinaster, espécie autóctone da nossa floresta holocénica, atingiram o seu máximo desenvolvimento durante o óptimo climático pós-glaciar, entre 8000 e 5000 anos BP, presente- mente têm sido devastados por incêndios, por pragas como a do nemátodo, e sobretudo pela má gestão florestal, que tem permitido a fragilização desta espécie. A sua madeira, exaustivamente resina- da, em extensas zonas lesionadas, tem perdido os mecanismos de defesa face aos agentes xilófagos.
Os pinhais da Maria da Moita, entre Santo André e Sines eram vigorosos e quase eternos nos anos 70, quando tive o privilégio de neles passear ao
som da musicalidade que os seus dedos impunham à brisa marítima dos fins de tarde de Agosto ou ao som dos épicos concertos dos dias de tempestade. Tudo era selvagem e limpo, e ainda se construíam barcos de madeira no estaleiro de Sines. Actualmente, uma paisagem de troncos rígidos e moribundos desenha franjas incertas de lixos domésti- cos e industriais, na periferia das aglomerações urbanas.
E quem pensa que as árvores não choram? Essas desmedidas feridas abertas nos troncos dos pinheiros, verdadeiramente para nada, porque as suas lágrimas caem sem glória nas areias sujas da indiferença, são tão impressivas que é impossível não sentirmos o sofrimento deles e o nosso, porque estamos destruindo e aviltando a vida silvestre.
Rosa Nunes oferece-nos um espelho e pede-nos que o olhemos, de muito perto, a rasar a pele, e se a sua metáfora não quebrar a distância que nos separa do amor à vida, em qualquer uma das suas formas, não será apenas a duna verde de outrora que nos abandonará, pois acabaremos por esque- cer o brilho do verde orvalhado e esmeraldino da nossa Terra.
Joaquina Soares
(Directora do MAEDS e Profª de Arqueologia na FSCH)